Uma costureira e rendeira de Saubara, município que fica no recôncavo da Bahia, criou o vestido de casamento usado pela atriz Duda Santos, que interpreta Maria Santa, personagem da novela Renascer, exibida na faixa das 21h na Rede Globo. A cena foi ao ar na terça-feira (30) e a beleza, delicadeza e riqueza de detalhes chamaram atenção dos telespectadores.
A peça foi desenhada pela costureira Maria do Carmo Amorim, de 77 anos, e produzida por ela e outras rendeiras da Associação dos Artesãos de Saubara, município litorâneo conhecido pela atividade pesqueira, pelo artesanato e pelas manifestações culturais.
A notícia se espalhou pela cidade de quase 130 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e provocou orgulho entre os moradores.
Em entrevista à TV Bahia, Maria do Carmo contou que o convite para produzir o vestido foi feito em julho de 2023, por meio do Instituto Mauá, em Salvador, espaço colaborativo que expõe trabalhos de artesãos de diversos locais do estado.
A costureira estava em uma reunião no local, quando recebeu a ligação de uma figurinista da emissora, perguntando se seria possível a confecção da roupa, inteira em renda de bilro.
“O serviço começou em julho e terminou em setembro [de 2023]. Eu desenhei os pedaços, passei para o papelão e dei para as artesãs confeccionarem. Foram 140 pedaços de aplicações, eu e Lenira [costureira] emendamos e fizemos duas toalhas”, detalhou, acrescentando que as toalhas, que tinham cerca de dois metros de tecido cada, deram origem ao vestido.
Ela contou que não conheceu pessoalmente a atriz, todas as informações sobre medidas foram passadas à distância, contudo, na tela, foi possível notar que o vestido parecia ter sido costurado no corpo da personagem, de tão perfeito que ficou o caimento.
A costureira se emocionou ao falar sobre a produção e destacou a importância do trabalho para as rendeiras do município.
“Meu coração é pura alegria, porque meu celular não parou desde ontem. Estou muito feliz com esse reconhecimento e com o nosso trabalho aqui na casa das rendeiras. É a cara da mulher rendeira para o mundo e isso não é pouca coisa, não”, enfatizou.
Maria do Carmo afirmou que tanto ela quanto as outras costureiras e rendeiras aceitam encomendas de outros vestidos, inclusive de noivas, e agradeceu pelo alcance após a peça ter sido veiculada em rede nacional.
“De agora em diante, vamos preparar as mãos para trabalhar. E vocês precisam vir na Associação de Saubara para verem que coisa belíssima é o nosso trabalho”, afirmou.
Rendas de bilro
A renda está presente em roupas, lenços, toalhas e outros artigos, e tem um importante papel econômico nas regiões Norte, Nordeste e Sul do Brasil. No caso específico da renda de bilro, trazida ao Brasil por colonizadores portugueses, é uma técnica complexa e antiga, que se tornou produto local através do processo de aculturação, segundo historiadores.
- Chamada renda de almofada ou de bilros, a técnica manual é desenvolvida pelas rendeiras, que trabalham com uma almofada, um papelão cheio de furos, linha e bilros;
- O bilro é um pequeno instrumento composto por uma curta haste com ponta redonda. Na outra ponta da haste, é presa uma quantidade de linha que, no manuseio, é disposta em um design padrão ou a ser desenvolvido;
- As rendas são feitas em cima da almofada, recheada com palha, onde é colocado o desenho em papelão que serve como molde para o trançado;
- Os papelões são passados de geração em geração e alguns motivos são exclusivos de algumas famílias;
- Os modelos de desenho, em geral, são antigos, e para obter novos, as rendeiras os emprestam entre elas, ou conseguem amostras de outros lugares;
- O fio usado pelas rendeiras de bilro é o algodão, predominantemente na cor branca, pela tradição e por não dificultar a visão.
A produção desse tipo de peça requer o uso de vários bilros, cuja quantidade varia conforme a complexidade do desenho. A renda é produzida em cima de almofadas repousadas sobre o colo da artesã, ou assentada em cavalete de madeira.
Gravações no sul da Bahia
Uma fazenda localizada em Ilhéus, no sul da Bahia, foi cenário das gravações do remake da novela Renascer, cujo enredo se passa na região sul da Bahia, local que prosperou a partir do cultivo do “ouro branco”, o cacau.
A cidade foi escolhida justamente por causa de sua história: na década de 1990, a microrregião de Ilhéus-Itabuna era responsável por mais de 60% da produção nacional do fruto.
As gravações da versão atual iniciaram em outubro de 2023. A propriedade é a mesma em que a trama original foi gravada, em 1993. Escrita por Benedito Ruy Barbosa, a obra icônica foi adaptada por Bruno Luperi, neto do autor.
(G1)