Morreu neste domingo (28), aos 99 anos, a atriz e comediante Berta Loran, um dos nomes mais marcantes do humor na televisão brasileira. A informação foi confirmada pelo Hospital Copa D’Or, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, onde ela estava internada. A causa da morte não foi divulgada.
Com uma trajetória de mais de oito décadas nos palcos, nas telas e no coração do público, Berta ficou conhecida por seus trabalhos em programas como A Escolinha do Professor Raimundo, Zorra Total e Balança, Mas Não Cai, principalmente na TV Globo.
De Varsóvia à Praça Tiradentes
Judía nascida em Varsóvia, na Polônia, em março de 1926, Berta Loran — nome artístico de Basza Ajs — chegou ao Brasil em 1937 com a família, fugindo da perseguição nazista. Instalaram-se num sobrado na Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, onde ela cresceria e daria os primeiros passos rumo à carreira artística.
Influenciada pelo pai, também ator e alfaiate, Berta começou a atuar aos 14 anos, inicialmente em clubes da comunidade judaica e depois no teatro de revista, onde sua veia cômica e sotaque marcante a destacaram no cenário artístico.
Dos palcos ao cinema
Seu primeiro papel de destaque veio em 1952, aos 26 anos, a convite do maestro Armando Ângelo. Três anos depois, estreava no cinema na chanchada Sinfonia Carioca, de Watson Macedo, iniciando uma série de participações em comédias dirigidas por Carlos Manga.
Em 1957, uma viagem profissional para Portugal com a peça Fogo no Pandeiro acabou se transformando em uma temporada de seis anos vivendo e atuando no país. De volta ao Brasil, Berta retomou sua carreira, ampliando sua presença nos palcos e dando início à trajetória na televisão.
Sucesso na TV
Sua estreia na TV Tupi veio em 1966, no programa Espetáculos Tonelux. Pouco depois, foi convidada por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, para integrar o elenco da Globo, começando pelo humorístico Bairro Feliz. Ganharia ainda mais notoriedade em Balança, Mas Não Cai, adaptação televisiva do programa de rádio da Nacional.
Durante os anos 1970 e 1980, brilhou nos principais programas humorísticos da emissora, numa parceria duradoura com Jô Soares. Participou de clássicos como Faça Humor, Não Faça Guerra, Satiricom, Planeta dos Homens e Viva o Gordo.
Em A Escolinha do Professor Raimundo, a partir de 1991, Berta deu vida à imigrante portuguesa Manuela D’Além-Mar, além de outros personagens icônicos como a judia Sara Rebeca e Maria, sempre com forte sotaque e timing cômico apurado.
Novelas e teatro
Além do humor, Berta Loran também se destacou em novelas. Um de seus papéis mais lembrados foi o da empresária Frosina Maria de Jesus em Amor com Amor se Paga (1984). Em paralelo, apresentou por três anos o espetáculo solo Divirta-se com Berta Loran, no qual cantava, dançava, sapateava e contava piadas. O sucesso foi tanto que lhe rendeu um apartamento em Copacabana.
Ao longo dos anos, esteve ainda em produções como Cambalacho, Torre de Babel, Da Cor do Pecado, Ti Ti Ti (remake), Cama de Gato e A Dona do Pedaço, além de integrar o elenco de Zorra Total.
Despedida
Berta Loran foi casada duas vezes, mas não teve filhos. Nos últimos anos, vivia reclusa, com aparições públicas cada vez mais raras. Seu último trabalho relevante foi no cinema, em Juntos e Enrolados (2022), além de ter sido homenageada na série Comediantes Que Amamos.
Em 2016, teve sua vida registrada na biografia Berta Loran: 90 Anos de Humor, escrita pelo jornalista João Luiz Azevedo. A obra apresenta uma longa entrevista com a atriz, relembrando sua trajetória artística e pessoal.
Com seu humor afiado, presença de palco e personalidade marcante, Berta Loran deixa um legado inestimável para a comédia e a cultura brasileira.



