Junior Lima, irmão da cantora Sandy, quer voltar a ser pop. Dezesseis anos após encerrar a dupla que mais fez barulho no gênero nas décadas de 1990 e 2000, e depois de se arriscar em grupos de rock e música eletrônica, o artista vai finalmente se lançar em carreira solo.
Para não deixar dúvidas sobre a ausência de Sandy, ele batizou o seu primeiro álbum de “Solo – Vol 1”.
É um projeto pop com dez canções, escolhidas entre 54, e que vai ganhar uma sequência com outras 13 faixas no futuro.
“Tive muitos projetos diferentes e nichados em que desempenhava papéis específicos desde o final de Sandy e Junior. Eu era baterista e fazia uma segunda voz ou outra. Também trabalhei como produtor. Mas isso era só uma fatia do que eu tinha para oferecer”, diz o músico ao receber a reportagem em um hotel de luxo em São Paulo.
Junior se sentiu reconectado com a música pop em 2019, quando viajou pelo Brasil com a megaturnê “Nossa História”, que marcou o reencontro dele com Sandy após 12 anos de hiato da dupla.
Em um dos momentos mais celebrados do show, Junior dançava e cantava “Enrosca” sozinho no palco, e depois tocava um solo de bateria com cara de mau e o rosto pingando suor. À época, fãs disseram que o músico havia finalmente se encontrado como showman.
“Na turnê, me vi no contexto em que me formei como artista. Os ensaios com banda, eu mexendo de novo nas guitarras, escolhendo timbre, pedaleira, o amplificador, tudo. A produção de um show pop é minha zona de conforto”, afirma.
É disso que Junior fala em “De Volta Pra Casa”, o primeiro single do novo disco, cujo clipe foi lançado agora. “Não tem outra opção/ me enlouquece, me deixa são/ me traz o céu, me tira o chão”, canta, enquanto observa microfones apontados para ele num palanque.
No refrão, o músico arrisca uma coreografia contida, como as que ficaram famosas nos quadris dos membros de boy bands como Nsync e Backstreet Boys. Rebolar no palco voltou a ser prazeroso e o faz lembrar dos tempos em que praticava balé clássico e jiu-jítsu, diz Junior.
Ele também sente prazer – tesão, para usar suas palavras – de ver a força que o pop ganhou no Brasil nos últimos anos. Questionado sobre o empobrecimento lírico e o encurtamento das músicas desse gênero, ele diz ver a tendência como marca do comportamento das novas gerações.
“Ao longo do processo de produção do disco eu fui questionado, tipo, ‘essa música vai ter mais de três minutos?’. Não fiquei tentando seguir padrões mercadológicos nem fórmulas para hits. Sou zero racional na hora de criar música”, diz.
A mais comprida das faixas é a nada radiofônica “Foda-se”, que deve despertar estranheza nos fãs porque não tem Junior cantando, mas declamando um texto escrito pelo cantor e compositor Dani Black.
“É que quando a gente liga um foda-se total/ pro que pensam da gente/ um foda-se total pra tentar agradar alguém”, entoa Junior nos versos da faixa. É uma das suas queridinhas, ele diz, que vê no texto uma mensagem que tem tudo a ver com seu momento de vida. “Foda-se” marca também a única vez em que Sandy aparece no disco, aqui fazendo segunda voz para o irmão.
É uma inversão de papéis. À época da dupla, era ela quem tomava a frente dos microfones, com Junior quase sempre escanteado às segundas vozes e aos instrumentos musicais. Nos discos, vez ou outra ele cantava sozinho. Veículos de imprensa chegaram a taxá-lo de “sombra da Sandy”.
Hoje o músico tenta quebrar esse estigma. “Foi muito doloroso ouvir isso. Talvez tenha me roubado alguns anos da possibilidade de estar fazendo isso [sozinho]. Mas serviu como estímulo. Talvez, se não fossem essas coisas, eu não teria sentido tanta vontade e curiosidade de explorar outras maneiras de existir como artista”, afirma.
Mas Sandy continua sendo uma peça importante nas suas construções. A cantora vem dizendo estar ansiosa pelo lançamento nas redes sociais na última semana.
O nome de Sandy esteve em alta no mês passado, quando ela e o músico Lucas Lima anunciaram divórcio após ficarem 15 anos casados.
Junior conta ter ficado surpreso quando eles o contaram da decisão. “Foi, tipo ‘oi, como assim?’. Mas eles estão fazendo esse processo com uma maturidade tão grande que eu saí da conversa falando ‘como é bonito ver a maneira como estão conduzindo isso’. Eu entendi que a relação deles se transformou.”
Junior faz 40 anos em abril do ano que vem. Diz que recebe a idade com sensação de frescor e novidade.
Ele tem sentido vontade de cantar sobre temas mais maduros. “Sou”, por exemplo, que tem dedo do seu pai Xororó na letra, é sobre superar traumas. “Cicatrizes me doem ainda/ mas também motivam meus ideais/ pra entregar o que há de melhor em mim”, ele canta.
Em “Tentando Acertar”, o músico diz que a ansiedade que chega com a idade o paralisa. “Tive alguns períodos difíceis de saúde mental”, diz ele, lembrando dos anos de 2012 e 2013.
“A pandemia foi complicada, as sombras apareceram de novo. Como falo na música ‘Paraquedas’, eu estava vivendo um momento em que tudo me dizia para voar, mas eu caí.”
Junior encabeçou a banda Nove Mil Anjos por um ano quando se separou de Sandy. A convivência com os outros membros ficou estressante, e o grupo se desmanchou. Em 2010, ele foi convidado para integrar a banda de música eletrônica Dexterz, e em 2016 criou o duo Manimal com o DJ Júlio Torres. Ele também saiu de ambos.
É só agora, de volta ao pop, que diz estar pondo em prática de novo todas as suas facetas. Junior quer convencer o público de que está mesmo de volta para casa.
SOLO – VOL 1
Onde: Nas plataformas digitais
Autoria: Junior
Produção: Junior, Lucs Romero, Felipe Vassão
Gravadora: Virgin