Crédito: Paula Fróes/CORREIO
No mundo animal, apenas o leão é considerado rei. Na Arena Fonte Nova, a força do predador calou a revolução dos bichos na tentativa de inverter a dominância da natureza. Mesmo sem a presença da torcida, o Leão empatou com o Bahia e voltou a levantar o trófeu de campeão do Campeonato Baiano pela 30° vez, após sete anos de jejum. A glória deste 7 de abril de 2024 ficou por conta dos pés de Wagner Leonardo. Éverton Ribeiro empatou o jogo para os tricolores.
O confronto marcou a Arena Fonte Nova como palco do clássico como jogo derradeiro do estadual pela 13ª vez. Em seis oportunidades, o Vitória se sagrou campeão no estádio: 1955, 1957, 1964, 1972, 2016 e em 2024. Do outro lado, o Bahia comemorou o título ao apito final em sete oportunidades: 1958, 1959, 1974, 1975, 1976, 1979 e 1981.
Na grande final do Campeonato Baiano, a vantagem do primeiro embate entre as duas equipes surtiu efeito para o Vitoria, que conseguiu segurar o resultado e sair da Fonte Nova com mais um título. Apesar do resultado, tanto o Esquadrão quanto o Leão desempenharam um grande clássico, com oportunidades claras em todo os 90 minutos. No entanto, a torcida que terminou o domingo comemorando foi a do time que cumpriu melhor a estratégia dentro do campo.
O JOGO
Dentro de seus domínios, o técnico Rogério Ceni promoveu uma mudança no time titular em relação ao último BaVi, quando perdeu para o rival dentro do Barradão por 3×2. Enquanto Luciano Juba começou o confronto no banco de reservas, Biel foi o escolhido para ocupar o lado esquerdo do ataque tricolor. Do outro lado, o comandante Léo Condé manteve os mesmos onze para o clássico que decidiu o Campeonato Baiano. Antes do jogo iniciar, de fato, todos os 22 jogadores prestaram um minuto de silêncio em homenagem ao falecimento do cartunista Ziraldo.
O Bahia começou tentando acabar com a vantagem do Vitória, subindo as linhas e forçando pelas laterais do campo, já que o rubro negro congestionou o meio com três volantes. Inclusive, o time de Léo Condé iniciou a partida baixando o bloco e apostando nas transições ofensivas. Montado o xadrez dos treinadores, quem iniciou a ofensiva foi o Bahia. Logo aos três minutos, Arias achou um passe infiltrando entre as linhas do Vitória para Thaciano, que devolveu para Biel finalizar e Lucas Arcanjo fazer a primeira defesa do confronto.
Ainda no ínicio, a equipe mandante conseguiu chegar mais frequentemente pelo lado direito, onde aproveitou as subidas de seu lateral ao ataque e as rápidas trocas de passes entre o lateral, os dois meias de criação e Thaciano. A articulação gerou espaços dentro do ferrolho do Leão, que manteve a calma para desempenhar a estratégia de seu treinador.
Como três volantes e apenas um ponta não é sinônimo de retranca, foi aproveitando justamente a disposição criada por Condé que o Vitória mostrou reação. A partir de um escanteio para o Bahia, Osvaldo recebeu em profundidade pela esquerda e teve que ser parado com falta por Jean Lucas. Desse lance, iniciou-se uma sequência de escanteios para os visitantes, que cresceram no jogo e “comeram a primeira peça” do tabuleiro.
Após escanteio cobrado por Matheusinho aos 14 minutos, a bola sobrou para PK na esquerda, que tirou da marcação e cruzou para a área. Na rebatida da zaga para a entrada da área, Alerrandro pegou a sobra e chutou forte para a defesa de Marcos Felipe. No entanto, o rebote da torre tricolor sobrou nos pés de um herói improvável. O zagueiro Wagner Leonardo era quem estava posicionado para colocar a bola no fundo das redes e fazer o 1×0 para o Vitória.
Cenário completamente favorável ao rubro negro, que agora tinha dois gols de vantagem em relação ao rival. Do lado tricolor, o baque no início do jogo não foi suficiente para desestabilizar a equipe. Assim como o rival, o Bahia aproveitou a transição rápida com um lançamento de Marcos Felipe para Biel, que tabelou com Jean Lucas e cruzou para Éverton Ribeiro limpar a marcação e colocar a bola no ângulo, empatando a partida e inflamando os tricolores presentes na Fonte Nova. Pontaria perfeita do camisa 10 para colocar o placar em 1×1.
Após o gol, o Bahia teve a posse e a tranquilidade para criar, já que o Vitória não fez pressão na saída de bola dos rivais. Aos 26, mais uma jogada perigosa dos tricolores. Thaciano recebeu, limpou dois e finalizou. No rebote, Cauly recebeu livre e só não virou o jogo por conta de Arcanjo, que fez uma defesa grande para salvar o Leão. Ao contrário da partida de ida, o primeiro tempo do clássico não faltou emoção. Reflexo disso foi o clima dentro de campo, onde discussões entre os jogadores se mostraram presentes. Em ambos os lados, o nervosismo estava lá, mas apenas o Bahia sucumbiu.
Aos 30 minutos, o VAR chamou o árbitro para um lance onde Rezende derrubou Osvaldo na frente da área. Como era o último homem, Emerson Ricardo decidiu pela expulsão do camisa 5 do Bahia. Com um a menos, Rogério Ceni precisou recalcular a rota da equipe, colocando Juba no lugar de Biel. Com a expulsão, o Bahia deixou de fazer a saída com 3 e liberou Juba pela esquerda. A solução pensada pelo comandante era avançar o time, já que precisava do resultado, e aproveitar a capacidade de construção de Caio Alexandre, que por vezes baixava para ajudar os zagueiros.
Mais confortável na partida, o Vitória continuou aproveitando os espaços deixados pelo rival e viu a equipe mandante recuar as linhas, o que permitiu ter mais cautela na construção das jogadas. No intervalo, os dois times voltaram sem mudanças. Nem Rogério Ceni e nem Léo Condé acharam que mudanças seriam efetivas para a etapa final do jogo.
O segundo tempo começou com uma inversão nos planos projetados pelos comandantes. Enquanto o Vitória mantinha a posse para construir, o Bahia foi mais objetivo em buscar transições ofensivas em velocidade, o famoso contra-ataque. Aos 10 minutos, hora de mudança. Não só Iury Castilho entrou em campo no lugar de Dudu, mas a plataforma da equipe sofreu alterações. Agora o Leão teria dois pontas para ampliar o leque de opções ofensivas.
Por outro lado, a substituição ofereceu mais espaço para Everton Ribeiro flutuar entre as linhas do rubro negro. Inclusive, quem achou que a inferioridade numérica fosse acabar com o ânimo do Bahia, se enganou. Contando com o apoio da torcida, os mandantes não deixou nem o ritmo e nem a garra diminuírem.
O resto do jogo se manteve mais truncado e estudado entre as duas equipes. Substituições foram feitas, dinâmicas foram modificadas, mas a qualidade da partida não caiu. Dentre a variabilidade das táticas, Thaciano voltou a ser o volante da saída de bola quando Caio Alexandre foi para o banco e Matheusinho assumiu a função de falso 9 quando o Leão tinha quatro homens no terço final.
Muitas chances criadas pelo Vitória, mas nenhuma delas se traduziu em gol. Ao final dos 51 minutos do segundo tempo, quando o árbitro apitou o fim do Campeonato Baiano, o Bahia até tentou reagir, mas somente os rubro negros puderam comemorar a glória do 30° título estadual. Xeque-mate.
Ficha técnica
Bahia 1 x 1 Vitória – Campeonato Baiano (Final/Volta)
Bahia: Marcos Felipe, Arias (Gilberto), Kanu, Cuesta, Rezende (Luciano Juba), Caio Alexandre (Ademir), Jean Lucas, Everton Ribeiro (Estupiñán), Cauly, Biel e Thaciano. Técnico: Rogério Ceni.
Vitória: Lucas Arcanjo, Zeca, Camutanga, Wagner Leonardo, Patrick Calmon (Lucas Esteves), Willian Oliveira, Dudu (Iury Castilho), Rodrigo Andrade (Caio Vinícius), Matheusinho, Osvaldo (Mateus Gonçalves) e Alerrandro (Zé Hugo). Técnico: Léo Condé.
Local: Arena Fonte Nova
Gols: Wagner Leonardo, aos 14 minutos do primeiro tempo; Éverton Ribeiro, aos 19 do primeiro tempo;
Cartão amarelo: Gilberto, Kanu e Jean Lucas (Bahia); Matheusinho, Mateus Gonçalves, Dudu, Lucas Esteves e Wagner Leonardo (Vitória);
Cartão Vermelho: Rezende (Bahia);
Arbitragem: Emerson Ricardo de Almeida Andrade, auxiliado por Luanderson Lima dos Santos e Elicarlos Franco de Oliveira em campo. No VAR, Daniel Nobre Bins.
(Correio)