Um policial militar e o primo dele foram presos na manhã desta sexta-feira (24), suspeitos de envolvimento nas mortes de dois funcionários de um ferro-velho que desapareceram em Salvador. Paulo Daniel Pereira Gentil do Nascimento e Matusalém Silva Muniz foram vistos pela última vez em novembro de 2024, mas seus corpos seguem desaparecidos.
As prisões ocorreram durante uma operação que cumpriu mandados de prisão contra suspeitos de integrar uma associação criminosa, com características de milícia, apontada como responsável por uma série de mortes violentas no estado.
O policial militar, identificado como Marcelo Durão, foi preso em sua residência, no bairro da Pituba, em Salvador. Já o primo dele, Clóvis Durão, foi localizado no estabelecimento comercial onde trabalhava, na Avenida Barros Reis, também na capital baiana.
Um ex-policial militar, que estava preso em uma unidade de segurança máxima no sistema penal da Paraíba, também teve mandado de prisão cumprido por envolvimento no crime.
“Nós acreditamos que as prisões desses indivíduos vão auxiliar as equipes de investigação, para que consigamos estabelecer a relação deles com os crimes em investigação, não só os desaparecimentos dos jovens do ferro-velho, mas também outros homicídios, que seguem em apuração”, afirmou a delegada Andréa Ribeiro, diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Na semana passada, o soldado da Polícia Militar Josué Xavier, também suspeito de envolvimento nas mortes dos jovens, foi solto após o término do prazo de sua prisão temporária. A Polícia Civil informou que fez o pedido de manutenção da prisão de Josué, mas não obteve resposta. O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) afirmou, em nota, que não pode explicar o motivo do não cumprimento da solicitação, pois o caso está sob segredo de Justiça.
A Polícia Militar confirmou que Josué Xavier voltou a fazer parte da corporação, mas atuará no setor administrativo até o fim das investigações. Ele é lotado na 19ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) de Paripe.
Além dos policiais, o gerente do ferro-velho, Wellington Barbosa, conhecido como “Cabecinha”, também foi preso. Ele cumpria prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica devido a um diagnóstico de hanseníase, uma doença que afeta a pele e nervos, causando incapacidades físicas.
“Nós estamos na expectativa de uma nova decisão, a partir de um novo pedido de prisão feito pela autoridade policial responsável pela investigação”, disse a delegada Andréa Ribeiro.
O delegado José Nélis, responsável pelas investigações, informou que ainda não é possível afirmar a participação de cada um dos presos, mas as apurações indicam que Paulo Daniel e Matusalém foram mortos.
O desaparecimento de Paulo e Matusalém completou dois meses em 4 de janeiro. Eles foram vistos pela última vez quando saíram de suas casas para trabalhar como diaristas no ferro-velho, localizado no bairro de Pirajá.
Marcelo Batista da Silva, dono do ferro-velho, é considerado o mandante do crime. A Justiça decretou sua prisão preventiva em 9 de novembro, mas ele fugiu e continua sendo procurado. Marcelo também é réu em um processo por violência doméstica contra sua ex-companheira, com audiência marcada para a próxima semana.
Quem é o dono do ferro-velho?
Marcelo Batista da Silva é o proprietário do estabelecimento. Além do mandado de prisão em aberto relacionado ao desaparecimento dos dois jovens, ele é investigado por:
- Duplo homicídio
- Tentativa de homicídio
- Envolvimento com milícia e facção criminosa
- Violência doméstica contra a ex-companheira
Na Justiça do Trabalho, ele responde a nove processos em andamento, enquanto outros 60 foram arquivados. As acusações incluem descumprimento de pagamentos de salários, horas extras, assédio sexual e tortura.
A suspeita de envolvimento de Marcelo no crime foi levantada pelas famílias dos jovens, que alegaram que ele havia acusado as vítimas de furto. Durante a investigação, a polícia encontrou o carro do suspeito em uma loja especializada em veículos de alto padrão, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Avaliado em R$ 750 mil, o carro foi deixado no local por outra pessoa que solicitou a troca dos bancos, alegando que o veículo estava sujo. A polícia acredita que os vestígios de sujeira podem ser, na verdade, sangue das vítimas.
Em uma versão dada pelo empresário antes de seu mandado de prisão ser expedido, ele alegou que teve cinco toneladas de alumínio furtadas em dois meses e que conseguiu recuperar 500 quilos. Segundo Marcelo, no dia 4 de novembro, enquanto registrava ocorrência contra um terceiro funcionário, Paulo Daniel e Matusalém foram flagrados em outro furto. Ele afirmou que pretendia fazer um flagrante no dia seguinte, mas os jovens não apareceram para trabalhar e nunca mais deram notícias.
@midiafestof